Despedida e última volta à arena do grande forcado Pedro
Espinheira acompanhado por todos os companheiros; e, em baixo,
com Rafael Costa, novo cabo do GFA do Ribatejo
Miguel Alvarenga – A bonita e bem cuidada praça de toiros de Salvaterra de Magos abriu ontem a sua temporada com a já tradicional Corrida do Tomate e o também habitual Concurso de Ganadarias, duas marcas ali deixadas pelo anterior empresário Rafael Vilhais e a que os actuais gestores – a comissão composta pelos agricultores locais José da Costa, António Manuel Silva (que também é apoderado da cavaleira Ana Batista) e José Rafael Duarte, coadjuvados pela experiência e o rigor empresarial de Luis Pires dos Santos – deram, e muito bem, continuidade.
Ontem, como também é costume nesta primeira data, a praça registou uma excelente entrada de público, que preencheu cerca de três quartos da lotação – em dia em que se previa muito calor mas onde, felizmente, a temperatura esteve amena e agradável.
Com três figuras do toureio equestre no cartel – Luis Rouxinol, Ana Batista e Marcos Bastinhas -, a corrida tinha como principal aliciante e atractivo a actuação em solitário do consagrado Grupo de Forcados Amadores do Ribatejo frente aos seis toiros das ganadarias em concurso, em tarde de mudança de cabo e de despedida de um forcado histórico, de um forcado com alma, Pedro Espinheira, que passava o testemunho a Rafael Costa, o novo cabo.
Os seis toiros trouxeram emoção, respeito e seriedade à arena de Salvaterra e deram que fazer aos cavaleiros e aos forcados, havendo a registar uma tarde de triunfo para os três ginetes e para o Grupo do Ribatejo. Foi uma boa corrida, daquelas que marcam e deixam recordação.
Foi pena que recolhesse aos currais, visivelmente congestionado dos quartos traseiros, o primeiro bonito toiro de Canas Vigouroux, ganadaria que atravessa um momento muito alto e que na véspera ganhara outro concurso de ganadarias realizado em Montemor. Era um toiro com trapio, bonita apresentação e que saiu com pata, dando a entender que ia ser bom.
Em seu lugar, saiu aquele que serias o segundo toiro do lote de Luis Rouxinol, o da ganadaria do Engº Jorge de Carvalho, outro bonito e bem apresentado toiro, com bom comportamento, exigente, que viria a ganhar, com justiça e merecimento, o prémio de apresentação neste concurso.
Rouxinol esteve muito bem, com uma lide sem quaisquer desacertos, com a maestria e o valor que são seus primeiros apanágios. Deu aplaudida volta à arena com o forcado, havendo a destacar que brindara este sua primeira lide a Pedro Espinheira e aos Amadores do Ribatejo.
Em quarto lugar, Luis Rouxinol enfrentou outro toiro da mesma ganadaria do Engº Jorge de Carvalho, que por ser «sobrero» não entrou em concurso. Um toiro encastado e com raça, com o qual o veterano cavaleiro voltou a protagonizar uma lide acertadíssima, com excelentes momentos de brega e ferros emotivos com o seu selo. Escutou música, como acontecera no primeiro toiro e deu também aplaudida volta à arena com o forcado, o novo cabo Rafael Costa.
Ana Batista vive um momento extraordinário, a que muito se deve a moralização e a segurança que lhe veio dar o magnífico cavalo com o ferro de Pablo Hermoso, sem dúvida uma das melhores estrelas da actualidade no que diz respeito a cavalos de toureio.
Com a garra e a muita classe costumeiras, lidou muito bem o seu primeiro toiro, pertencente à ganadaria de João Ramalho, um toiro bem apresentado e de investidas claras, a pedir contas e com o qual Ana esteve superior. Toureou ao som da música e deu volta com o forcado, muito acarinhada pelo público da sua terra.
Em quinto lugar, enfrentou um toiro da ganadaria Prudêncio que tinha teclas e evidenciou codícia e bravura ao longo da lide. Ana brilhou nos ferros compridos e alcançou depois momentos notáveis de bom toureiro e excelente e vistosa brega com o cavalo acima referido, com o ferro de Hermoso de Mendoza. Lide de nota alta, também premiada com os acordes da Banda e com volta à arena da toureira com o forcado.
Marcos Bastinhas é um autêntico furacão que faz tremer qualquer praça e assim aconteceu ontem em Salvaterra. Lidou em primeiro lugar o belíssimo toiro da ganadaria Dr. António Silva, um toiro que pediu contas e foi exigente, ganhando o prémio de bravura.
Lide muito acertada de Bastinhas, que desenvolveu o seu toureio de verdade e emoção e deu depois o seu habitual show que é um misto de irreverência, ousadia e tremendismo e que conquista qualquer público. Euforia nas bancadas, Bastinhas com música e muitos aplausos na volta à arena com o forcado Pedro Espinheira, que se despediu pegando brilhantemente esse toiro.
Em último lugar, Marcos Bastinhas lidou o toiro da ganadaria Ribeiro Telles, bem apresentado, algo reservado e a que deu a volta com a sua experiência, a sua arte e esse seu condão, único, de galvanizar as bancadas, deixando por onde passa um rasto de luz inapagável e que nos faz sempre recordar a imagem e a história de seu saudoso Pai, o nosso eterno Joaquim Bastinhas. A corrida terminou em beleza com este sonoro e aclamado triunfo do inigualável Marcos.
Excelentes intervenções de todos os bandarilheiros das equipas dos três cavaleiros, quer a receber os toiros, quer a colocá-los para os forcados. Louvores de honra a Manuel dos Santos «Becas» e João Bretes; a Duarte Alegrete e António Telles Bastos; a Gonçalo Veloso e Cláudio Miguel. Nunca me canso de afirmar que Portugal tem neste momento um naipe de altíssimo nível de grandes toureiros de prata, a fazer lembrar os tempos de glória de outros que foram figuras como os irmãos Badajoz, Tinoca e Barreto, Bacatum e tantos mais.
As seis pegas dos Amadores do Ribatejo foram ontem, também, momentos de nota alta que marcaram a corrida – para grandes e exigentes toiros, saltaram à arena forcados experientes e com alma e coração. Mais logo, vamos aqui mostrar, como é costume, as sequências das seis pegas desta «encerrona» do grupo ribatejano em tarde marcante de passagem de testemunho na chefia.
André Laranjinha, forcado consagrado, fez a primeira pega da tarde, brindada ao público, ao terceiro intento, depois de nas duas primeiras intervenções ter sido derrotado com violência pelo duro toiro do Engº Jorge de Carvalho.
Pegaram depois Fábio Casinhas à primeira tentativa, pega brindada a Rui Souto Barreiros, antigo e recordado cabo deste grupo, ainda e sempre uma referência e uma glória dos Forcados; Pedro Espinheira, ao primeiro intento, com uma grande primeira ajuda de João Pedro Branco, entregando depois a jaqueta ao novo cabo Rafael Costa e dando uma emotiva e muito aplaudida volta à arena com todos os forcados (foto de cima); o novo cabo Rafael Costa, à primeira tentativa, numa emotiva pega; Dário Silva ao segundo intento; e, por fim, Rui Regueira à primeira tentativa e a fechar com chave de ouro uma tarde histórica e triunfal dos Amadores do Ribatejo.
Na direcção da corrida, com a competência, o bom senso e a aficion habituais, esteve Fábio Costa, assessorado pelo reputado médico veterinário José Luis da Cruz.
Ao início da corrida, nas cortesias, foi guardado um respeitoso minuto de silêncio em memória do ganadeiro Isidro Ricardo Silva, proprietário da ganadaria Santos Silva (do Mondego), falecido há dois dias, vítima de doença prolongada.
O júri do Concurso de Ganadarias esteve formado pelo Dr. Vasco Lucas, Miguel Matias e João Carlos Oliveira. No final, o maioral João Inácio «Janica» recebeu o prémio de bravura atribuído ao toiro de Dr. António Silva e o prémio de apresentação foi recebido pelo próprio ganadeiro galardoado, o Engº Jorge de Carvalho.
Por fim, uma palavra de apreço e de louvor à aficionadíssima comissão responsável desde a temporada passada pela fantástica gestão da centenária praça de Salvaterra – José da Costa, António Manuel Silva e José Rafael Duarte, com a colaboração do empresário Luis Pires dos Santos.
Seguem-se mais duas grandes corridas em Salvaterra – a 26 de Julho lidam-se seis toiros da ganadaria Casa Prudêncio e actuam os cavaleiros João Moura Júnior, João Ribeiro Telles e António Telles Filho, com um Concurso de Pegas (três grupos a designar); e a 30 de Agosto terá lugar a última corrida, estando apenas certo um curro de seis toiros do Engº Jorge de Carvalho, aguardando a comissão de gestão da praça pelo desenrolar da temporada (como noutros tempos faziam os senhores empresários) para contratar aqueles toureiros que mais se evidenciarem.
Fotos M. Alvarenga
Luis RouxinolAna BatistaMarcos Bastinhas
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