Muito embora em algumas pesquisas na internet (onde nem tudo o que parece, é…) surjam referências ao nascimento de Diamantino Vizeu no ano de 1924, na sua própria campa está referido o dia 21 de Julho de 1923 (faz hoje 100 anos) como o verdadeiro dia da sua vinda ao mundo – pelo que se cumpre neste dia o seu primeiro centenário.
O dia 21 de Julho de 1923 é também mencionado por Orlando Bastos Vilela como data de nascimento do famoso toureiro no prefácio que assina no livro autobiográfico de Dimantino Vizeu (editado pela TV Guia em Junho de 1992), intitulado «Memórias de um Toureiro».
«Quando no dia 21 de Julho de 1923, numa casa do bairro dos Anjos, em Lisboa, nasceu um menino a quem os padrinhos iriam pôr o nome de Diamantino Francisco, ninguém poderia supor – e muito menos seus pais – que com o nascimento daquele menino estava começando um novo capítulo da história do toureio em Portugal» – escreve Orlando Bastos Vilela no seu prefácio, onde lembra:
«A autêntica revolução que Diamantino protagonizou obriga-nos a considerar, sempre que se queira falar sobre a festa do touro, em Portugal, dois períodos distintos: antes e após Diamantino. Foi esta, talvez, a sua maior glória».
Diamantino Francisco Martins Viseu, de seu nome completo, não tinha qualquer relação com o mundo do toureio até ao dia em que conheceu um amigo que frequentava a Escola de Toureio de Júlio Procópio em Lisboa e se começou a entusiasmar pela arte de Montes. As primeiras vacas toureou-as na antiga Feira Popular de Lisboa, onde hoje são os jardins da Gulbenkian. E depois de conhecer o bandarilheiro espanhol Puntaré, rumou ao país vizinho e debutou no ano de 1944 como novilheiro em Toledo.
Teve em Portugal uma primeira apresentação (mal sucedida) na antiga praça de Santarém, mas em 1945 conseguiu o seu primeiro êxito notável na praça «Palha Blanco» de Vila Franca de Xira, onde alternava com o célebre Cayetano Ordoñez «Niño de la Palma».
O Grupo Tauromáquico «Sector 1» criou então um movimento de apoio à primeira estrela do nosso toureio a pé para que ele se apresentasse na Real Maestranza de Sevilha numa novilhada com picadores, o que veio a acontecer na Feira de Abril de 1946, onde cortou uma orelha.
E a 23 de Março de 1947 tomou finalmente o primeiro matador de toiros de Portugal tomando a alternativa na Monumental de Barcelona, sendo seu padrinho Francisco Vega de los Reyes «Gitanillo de Triana» e testemunhas Agustín Parra «Parrita» e António Bienvenida. «Comerciante» era o nome do toiro então lidado pelo primeiro matador de toiros português e pertencia à ganadaria de Juliana Calvo Albasserrada. Diamantino Vizeu tinha então 24 anos.
Confirmou a alternativa em Las Ventas, Madrid, a 15 de Julho do mesmo ano, das mãos de Pepe Bienvenida e também ainda nesse ano, a 21 de Dezembro, apresentou-se na praça El Toreo da cidade do México, país onde gozou de imensa popularidade.
Em Portugal, formou com Manuel dos Santos a mais célebre parelha do nosso toureio a pé. Em 1958 protagonizou o filme «Sangue Toureiro» contracenando com Amália Rodrigues.
Diamantino Vizeu retirou-se das arenas na praça do Campo Pequeno a 24 de Agosto de 1972 (cartaz em baixo), publicou as suas memórias em 1992 e outro dos seus maiores feitos foi ter fundado o Fundo de Assistência dos Toureiros Portugueses.
Era avô do também matador de toiros Mário Vizeu Coelho, hoje a viver em Espanha, fruto do casamento de sua filha Verónica com o saudoso matador de toiros Mário Coelho, que morreu em 2020, com 84 anos, vitima de covid-19.
Patriota dos quatro costados, recusou um dia receber das mãos do então Presidente da República Mário Soares uma condecoração, por o considerar (e escreveu-o em carta que enviou ao Palácio de Belém) um dos principais responsáveis da «vergonhosa descolonização”.
Diamantino Vizeu morreu a 12 de Outubro de 2001, tinha 78 anos, vítima de atropelamento na Avenida de Berna, em Lisboa, muito próximo da praça de toiros do Campo Pequeno, onde vivera muitas das suas tardes e noites de glória. Estava de regresso a casa (morava junto ao Jardim Constantino), depois de visitar seu irmão que se encontrava internado no Hospital Curry Cabral.
Fotos D.R.
Campa de Diamantino Vizeu no Cemitério do Alto de São
João (Lisboa), com referência ao dia de hoje como o do seu
nascimento – há 100 anos. Em baixo, programa da corrida
da sua despedida no Campo Pequeno em 1972
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