Dizia-se com alguma ironia que a praça era capaz de ter petróleo e que seriam «mais que as mães» os empresários que iriam concorrer à adjudicação (por duas temporadas) da Monumental do Montijo… mas a grande polémica estalou depois de a Santa Casa da Misericórdia ter elaborado um Caderno de Encargos (vendido a 150 euros aos interessados…) que a esmagadora maioria dos profissionais do sector considera «completamente fora da realidade» e «praticamente impossível de cumprir».
No final do ano passado, a Associação Portuguesa de Empresários Tauromáquicos (APET), presidida por Paulo Pessoa de Carvalho, emitiu mesmo um comunicado onde aconselhava os seus associados a deixaram este concurso «em branco», não se apresentando a concorrer.
Nesse comunicado, a APET alertava os empresários tauromáquicos para o facto de as condições para a exploração da Monumental do Montijo serem «exageradas e desajustadas» e poderem mesmo ter «consequências fatais».
«Acreditamos que o concurso poderá ficar em branco, mas mais do que acreditar nisso, gostaríamos que por estes valores ficasse mesmo, isso seria uma tomada de atitude coincidente com o que o nosso mercado suporta», alertava a Associação de Empresários.
Ontem, foi enviado às Redacções um comunicado subscrito por Aficionados Montijenses (não identificados) que expressam publicamente «o seu desagrado em relação à posição recentemente divulgada pela Associação Portuguesa de Empresários Tauromáquicos (APET), aconselhando os empresários a não concorrerem à nossa estimada Praça de Toiros. Tal posição, na nossa perspectiva, demonstra total desrespeito pela festa brava e pela história desta emblemática praça de toiros».
«Entendemos que a preservação deste monumento requer investimento e apoio continuo. Nesse sentido, expressamos total apreço pelo trabalho realizado pela Santa Casa da Misericórdia de Montijo na gestão e manutenção desta praça. A instituição tornou-se uma referência, um exemplo a seguir por outras misericórdias na forma como apoia e promove a tauromaquia e é com admiração que reconhecemos os esforços dedicados à preservação da Monumental ‘Amadeu Augusto dos Santos'», acrescenta o comunicado.
Os autodenominados Aficionados Montijenses apelam à APET para que reveja a sua posição e convidam a «todos os intervenientes a trabalhar em conjunto para assegurar que este património único continue a ser um ponto de encontro para os aficionados e um símbolo da tradição tauromáquica em Portugal».
Em causa estará o aumento substancial do valor do arrendamento da Monumental, que era de 80 mil euros (por dois anos) no concurso anterior e neste subiu para 100 mil (50 mil euros por temporada).
Contudo e segundo um dos mais conceituados empresários taurinos nacionais referiu ao «Farpas», «não é o dinheiro a razão principal porque não devemos concorrer a este concurso, mas sim as condições completamente desajustadas da realidade que são exigidas no Caderno de Encargos». E especifica:
«Já houve em anos anteriores outras praças alugadas por esse valor, o problema não é o dinheiro. Se dividirmos 50 mil euros pelas cinco corridas que nos são exigidas por ano, isso dá 10 mil euros por corrida e há que ter em conta que, por exemplo, dar hoje uma corrida numa praça portátil tem um custo aproximado de 8 mil euros, portanto há que ter em conta que o valor que nos estão a exigir no Montijo não é assim tão exagerado. Completamente fora do contexto e da realidade são, isso sim, as exigências feitas no Caderno de Encargos. Por exemplo: a obrigatoriedade de realizar duas corridas nas Festas de São Pedro (Junho). Com uma já não é fácil encher a praça e ter lucro, quanto mais com duas… E mais: também a obrigatoriedade de dar uma corrida de seis toiros aos Forcados Amadores do Montijo e outra também de seis toiros aos Forcados da Tertúlia Tauromáquica do Montijo… não tem pés nem cabeça…».
O prazo para a entrega de propostas termina na sexta-feira, dia 5 de Janeiro. Pode aparecer um ou outro aventureiro, mas não é muito provável que se candidatem os empresários mais conceituados.
Há quem avente a possibilidade de a Santa Casa levar a efeito um novo concurso. Ou a de, se não tiver candidatos, negociar directamente a adjudicação com um conhecido empresário montijense que já por várias vezes terá manifestado interesse em gerir a praça da sua terra.
Sim ou sopas. Tudo (ou nada) pode acontecer. Vamos esperar por sexta-feira…
Foto D.R./Montijo Arena/Facebook
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