A primeira corrida da temporada na Monumental de Coruche, na tarde de ontem, ficou tragicamente marcada pela morte repentina em plena arena do cavalo «Xarope» (ferro António Paim), vítima de síncope, de Miguel Moura, a célebre estrela da quadra com que o cavaleiro costumava fazer – e fez ontem – as emotivas sortes de gaiola.
Miguel Moura recebeu o terceiro toiro da tarde, com o nº 15 e o peso de 460 quilos, da ganadaria São Torcato, com o cavalo «Xarope», numa fantástica sorte de gaiola que entusiasmou o público. Cravou ainda um segundo ferro comprido e depois preparava-se para trocar de cavalo quando, mesmo à porta do pátio de quadrilhas, mas ainda na arena, o «Xarope» caíu fulminado, arrastando o cavaleiro na queda.
De imediato saltaram para a arena companheiros que se encontravam na trincheira e José Macedo Tomás, médico veterinário, cabo dos Forcados Amadores de Coruche, tentou ainda, em vão, reanimar o cavalo, mas todas as manobras foram infrutíferas. Junto a seu pai, já consciente de que perdera o cavalo, Miguel Moura estava banhado em lágrimas.
O que aconteceu – e se tem acontecido uns passos mais à frente, já dentro do pátio de quadrilhas, ninguém teria presenciado tão triste desfecho do «Xarope» – é pouco vulgar, mas pode acontecer a qualquer animal, como pode acontecer a qualquer ser humano. O cavalo sofreu uma síncope, um ataque cardíaco fulminante.
Já assistimos a cenas idênticas com um cavalo de Luis Rouxinol (que ontem também toureava em Coruche e brindou a sua segunda lide a Miguel Moura) há uns anos em Alcochete, vimos morrer da mesma forma um cavalo de Moura Caetano em Castro Marim (Algarve) também há uns bons anos e João Moura Jr., irmão de Miguel, perdeu um cavalo também na Ilha Terceira, vítima de uma síncope fulminante na arena.
A praça de toiros de Coruche não é, decididamente, um palco de sorte para os Moura. Foi também nesta arena que em 6 de Julho de 2019 João Moura Jr. perdeu o cavalo «Xeque-Mate», colhido por um toiro de São Torcato, numa noite trágica em que também Ana Batista sofreu uma violenta colhida. Completavam o cartel Luis Rouxinol e Manuel Telles Bastos (os mesmos cavaleiros que ontem actuavam ao lado de Miguel Moura), o matador Nuno Casquinha e o novilheiro Diogo Peseiro.
Momentos depois da morte repentina do «Xarope», o toiro de São Torcato acabou por ser recolhido aos currais, depois de alguma indecisão do director de corrida Tiago Tavares, para que o cavalo, entretanto já coberto por um capote, fosse arrastado para fora da arena.
Miguel Moura regressou à praça para prosseguir a sua actuação, visivelmente triste e com os olhos em lágrimas, sendo forte e calorosamente acarinhado pelo público, que lhe tributou uma enorme ovação.
O cavaleiro alcançou um triunfo notável e depois deu a volta à arena com o forcado Tiago Gonçalves, não conseguindo esconder a tristeza que lhe ia na alma.
No segundo toiro do seu lote, o mais São Torcato dos seis, obteve outro êxito memorável, sagrando-se grande triunfador da corrida. Um triunfo que teve um sabor amargo. Mas, de alguma forma, pode ter ajudado Miguel a superar esta triste perda.
Ao entrar em praça para a sua última lide e depois de cumprimentar o director de corrida, Miguel Moura dirigiu-se à porta do pátio de quadrilhas, o local onde o cavalo caíu e morreu, e deixou ali, no chão, o seu tricórnio – foi a última homenagem ao «Xarope».
Força, Miguel!
Fotos M. Alvarenga
Miguel Moura voltou à arena para prosseguir a sua lide sem
conseguir conter as lágrimas
Na volta à arena, o cavaleiro visivelmente emocionado
O brinde de Rouxinol a Miguel Moura no quarto toiro
Última homenagem ao «Xarope»: no sexto toiro, Miguel Moura
poisou o seu tricórnio no local onde o cavalo caíu morto
A sorte de gaiola e as últimas imagens do «Xarope» em praça
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