O (re)baptismo da icónica praça de toiros do Campo Pequeno com o nome da cerveja Sagres, oficializado ontem à noite antes do concerto do grupo inglês The Kooks que abriu a temporada de concertos de 2023 (sem a presença do Presidente da República, como se chegou a prever) na antiga primeira praça de toiros nacional – agora denominada Sagres-Campo Pequeno – está a agitar o meio taurino português.
Nas redes sociais, sucedem-se em catadupa os comentários de revolta de muitos aficionados – não propriamente pelo facto de a Sagres ser agora o naming sponsor da centenária praça de toiros, que por Decreto de 24 de Janeiro de 1983 tem a classificação de Propriedade de Interesse Público, mas por que muitos consideram e antevêem que isso pode significar o princípio do fim (há muito anunciado…) da realização de espectáculos tauromáquicos no recinto, desde o ano passado reduzido a apenas quatro por temporada.
«É alarmante este processo, é inaceitável esta mudança de nome do Campo Pequeno, é vergonhoso e obscuro todo este processo» – escreve no Facebook, com conhecimento de causa (por que o tem de sobra) a aficionada Ana Griffo Antunes Coimbra, ex-Mulher do Dr. João Borges, que foi administrador da antiga Sociedade de Renovação Urbana do Campo Pequeno, responsável pelas obras monumentais de requalificação do imóvel.
«Para mim, será sempre e só Campo Pequeno!» – escreve, por seu turno, na mesma rede social, o jornalista e crítico tauromáquico Hugo Teixeira. «O princípio do fim da Tauromaquia na Catedral» – prevê Duarte Justino, antigo toureiro amador, ex-aluno da extinta Academia de Toureio do Campo Pequeno, também na rede Facebook.
«Tanto que temos de reverter quando chegarmos ao Governo…» – escreve na mesma rede social Ricardo Moreira Regalia Dias-Pinto, do partido Chega.
No seu site touroeouro.com, a cronista Solange Pinto vai mais longe e escreve que «está na hora de perceber que Covões não é o culpado. Fez um negócio legítimo. Mais culpados são todos os que assobiam para o ar, a ver a banda passar e a arrecadar a moeda que cai para o chão. Não chorem pelo que não quiseram salvar».
Em declarações, hoje, ao «Diário de Notícias», Maria Oliveira, directora de marketing da Central de Cervejas, proprietária da Sagres, afirma que «este é o investimento mais relevante da marca em música e cultura», adiantando que a parceria com a empresa de Álvaro Covões, actual adjudicatário do Campo Pequeno (propriedade da Casa Pia de Lisboa), «permitirá colmatar a sazonalidade da presença da Sagres em eventos músico-culturais», sem fazer a mínima referência aos espectáculos tauromáquicos que ali também se realizam e que são, aliás, há 131 anos, a razão de ser daquele emblemático monumento da capital.
Maria Oliveira (na foto de cima, com Álvaro Covões), afirma que esta parceria – cujos valores não foram revelados – a «enche de orgulho» e que admira o espaço pela sua «portugalidade e conviviabilidade», valores com os quais a marca emblemática da Central de Cervejas se identifica.
«É um espaço português, não há que enganar, é português desde sempre», reforça a directora de marketing da Central de Cervejas, sem, uma vez mais, fazer qualquer referência aos espectáculos tauromáquicos. Também no video promocional da Sagres que anuncia o novo nome da praça de toiros do Campo Pequeno, disponível desde ontem nas redes sociais, não existe a mínima referência a touradas, mas apenas aos outros eventos culturais que ali se irão realizar…
Álvaro Covões, por seu turno, também em declarações dadas hoje à estampa no «Diário de Notícias», considera que «chegar a mais pessoas, tornar a cultura mais acessível e levar os portugueses a frequentarem mais os espaços culturais é o caminho», acrescentando que «um povo mais culto é mais livre e mais rico».
A denominada «sala de espectáculos» (que antes foi praças de toiros e uma das primeiras do mundo…) «renasce agora como Sagres Campo Pequeno, nome que vai permitir que o espaço se mantenha vivo, sustentável e continue a acolher projectos», explica Covões.
Vários outros orgãos de comunicação social noticiam hoje também que a praça de toiros do Campo Pequeno mudou de nome e que o lançamento oficial do novo naming aconteceu no dia em que arrancou a programação de 2023 do Sagres Campo Pequeno, cujo cartaz, referem, conta com nomes nacionais e internacionais, como Chico Buarque, Jorge Palma, Pixies, Bárbara Tinoco, Jamie Cullum, Bárbara Bandeira, Yes, Diogo Bataguas, Jim Jefferies ou o musical «Cats», entre outros. Em baixo, os próximos espectáculos (não taurinos) que terão lugar na antiga praça de toiros, agora denominada Sagres Campo Pequeno.
Também aqui, a imprensa ignora por completo e não faz a mínima referência aos (quatro) espectáculos tauromáquicos que estão anunciados para 2023 no Campo Pequeno, eventos esses da responsabilidade do empresário Luis Miguel Pombeiro e cuja programação e detalhes não foram ainda anunciados pelo próprio.
Fotos M. Alvarenga e D.R.
O novo logotipo do Campo Pequeno. E, em baixo, o
logotipo «que Deus tem»…
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