As 6 pegas da tarde de festa do Aposento ontem na Chamusca

Os três cabos do Aposento da Chamusca: João Saraiva, o fundador
Tiago Prestes e Pedro Coelho dos Reis, de novo juntos, ontem, na
corrida comemorativa dos 40 anos da fundação do grupo

Miguel Alvarenga – Foi bonita a festa, pá! Pena, só, que não tivesse tido nas bancadas a moldura humana que se impunha e a efeméride justificava.

Antigamente festejavam-se datas mais significativas (mais importantes), os 25 anos, os 50 anos. Hoje festejam-se todas as datas e qualquer uma serve para celebrar e transformar o dia numa efeméride.

Ontem o valoroso Grupo de Forcados Amadores do Aposento da Chamusca cumpria 40 anos da sua fundação. Dir-se-ia que depois de festejar os 25 anos, deveria agora festejar só os 50. Mas, repito, tornou-se hábito, até, festejar 10, 15 anos de alternativa, de fundação, do que for. Serve na mesma e ninguém fica ofendido. Festa é festa e festas fazem falta. Adiante.

O grupo, fundado há quatro décadas por Tiago Prestes e um punhado de valentes amigos, merecia ontem ter tido a apoiá-lo e a festejá-lo muito mais público nas bancadas da centenária praça da Chamusca, um dos baluartes da tauromaquia ribatejana.

Para que tudo não fique sempre na mesma, há que reflectir, há que corrigir erros, há que assumir, como já aqui escrevi e toda a gente já sabia, que a Ascensão na Chamusca aguenta a corrida de Quinta-feira de Espiga e fazer duas é correr um risco desnecessário e que dá, como ontem deu, mau resultado.

Entendo o querer, o empenho, a aficion e a vontade da nova empresa Toiros com Arte em agradar, em marcar a diferença. Fê-lo aqui (duas corridas), como vai fazer no Montijo (duas corridas nas festas de São Pedro, o que pode ser outro risco que não valeria a pena correr, mas…), mas é capaz de ser melhor reflectir, pensar, aconselhar-se e retomar a caminhada com passos mais certos. E mais certeiros. Sem necessidade de nadar contra a corrente. Sem necessidade de passar por desaires como o de ontem. Adiante, outra vez.

Foi bonita a festa, pá! Foi bonito rever outra vez fardados tantos forcados que foram história e fizeram história nas quatro décadas de existência deste grupo. Foi bonito rever de novo a envergar a jaqueta forcados como Francisco Macedo, António Melara Nunes, Nuno Castelão e tantos, tantos mais. Foi bonito rever o Simão Neves a rabejar como antigamente, com a raça e o saber de sempre. Foi bonito ver em todas as seis pegas muitos dos antigos forcados a dar ajudas (e por isso tive ontem a preocupação de os fotografar todos – para mais tarde recordar).

Bem apresentados, com presença e trapio, com menos força os primeiros, os toiros de Canas Vigouroux investiram sobretudo muito bem para os capotes (gostava de os ter visto toureados a pé), mas foram depois duros para os forcados, não facilitando, exigindo.

Foi bonito ver os três cabos do Aposento da Chamusca outra vez lado-a-lado. O Tiago Prestes, que fundou e comandou o grupo durante vinte anos; o valente Pedro Coelho dos Reis «Pipas», que jamais esquece tudo o que sabe e ontem não só fez uma pega brilhante ao segundo toiro da corrida, como depois deu uma valiosa primeira-ajuda ao Francisco Montoya na quinta pega; e o cabo actual, João Saraiva, que deu o exemplo e abriu praça pegando à primeira, com a costumeira arte e a usual perfeição e técnica, o primeiro toiro de Canas Vigouroux.

A segunda pega, como atrás referi, esteve a cargo do ex-cabo Pedro Coelho dos Reis, também ao primeiro intento, com o saber e o poderio de sempre; e a terceira foi consumada à terceira tentativa, depois de sofrer dois violentos derrotes nas anteriores, por Vasco Coelho dos Reis (jovem forcado experiente e muito perfeccionista, sobrinho do antigo cabo «Pipas»).

A quarta pega, que parecia consumada ao primeiro intento, mas afinal o forcado estava fora da córnea, foi consumada à segunda tentativa por João Rui Salgueiro.

Também à terceira, já com as ajudas carregadas e com o «Pipas», enorme, na linha da frente, Francisco Montoya executou com decisão e valor a quinta pega da corrida, dura e emotiva, a um toiro de Vigouroux poderoso e complicado.

E por fim, Francisco Souto Barreiros, outro valor do Aposento da Chamusca, forcado de dinastia, pegou o último toiro à primeira tentativa com brilhantismo e excelentes ajudas de todos os companheiros.

Aliás, há que louvar e aplaudir as intervenções de todos os forcados que saltaram à arena nas seis pegas, muitos deles já retirados, mas que nunca esqueceram a lição e a lembraram ontem a todos nós.

Em tarde de festa, o cabo João Saraiva brindou a primeira pega da tarde aos seus dois antecessores, Tiago Prestes e Pedro Coelho dos Reis, e este, por sua vez, brindou a sua pega (segunda da corrida) ao aficionadíssimo Padre Vicente, que assistia à corrida na galeria.

Houve também um brinde de Vasco Coelho dos Reis ao presidente da autarquia chamusques, Paulo Queimado; outro de João Rui Salgueiro aos três cavaleiros do cartel, Moura Caetano, Marcos Bastinhas e Miguel Moura; e uma de Francisco Montoya aos novos empresários da praça da Chamusca, Jorge Dias e Samuel Silva (Toiros com Arte) – que são, como se sabe, os grandes e mais poderosos empresários desta temporada de 2024, em algumas praças (nesta não) em parceria com a Ovação e Palmas de Luis Miguel Pombeiro.

Fique agora com a reportagem fotográfica das seis pegas de ontem na Chamusca na tarde de festa do Aposento, que quinta-feira regressa à sua praça, desta vez ao lado dos Amadores da Chamusca, para pegar os toiros de Passanha lidados a cavalo na tradicionalíssima corrida mista da Ascensão.

Mais logo, não perca os melhores momentos dos três cavaleiros frente aos sérios toiros de Pedro Canas Vigouroux; e, mais tarde, veja as fotos dos Famosos que ontem apanhámos na Chamusca.

Fotos M. Alvarenga

Excelente pega do cabo João Saraiva ao primeiro toiro, à primeira,
dedicada aos seus dois antecessores

Segunda grande pega da tarde, ao primeiro intento, pelo ex-cabo
«Pipas» Coelho dos Reis, brindada ao Padre Vicente. Primeira
fabulosa intervenção do veterano Simão Neves a rabejar. À antiga!

Dura pega de Vasco Coelho dos Reis à terceira, ao terceiro toiro
de Canas Vigouroux e Simão Neves a rabejar de novo em grande 

João Rui Salgueiro brindou aos três cavaleiros e pegou à segunda
o quarto toiro da corrida, com excelentes ajudas de todos

Francisco Montoya na dura e emotiva pega, ao terceiro intento,
ao quinto toiro. Brindada aos empresários da Toiros com Arte

Última pega consumada à primeira por Francisco Souto Barreiros,
que deu aplaudida volta com M. Moura e os campinos

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