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2 mayo 2024

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Dr. João Borges: um Homem que jamais deveremos esquecer


Em 2011 no Campo Pequeno entregando a Pablo Hermoso o
Galardão de triunfador da temporada anterior

Miguel Alvarenga – Chegámos a estar incompatibilizados e ele nem podia ouvir falar do meu nome, mas por razões institucionais e nunca pessoais. No momento triste da sua partida, curvo-me respeitosamente perante a memória do Dr. João Borges e estou aqui a prestar-lhe homenagem.

Infelizmente, a memória dos homens é curtíssima (e a dos homens dos toiros, ainda mais…) e essa será a única justificação – injustificável – para o facto de o mundo tauromáquico o ter esquecido por completo, e a toda a sua ilustre Família, depois de em Fevereiro de 2014 o Tribunal do Comércio de Lisboa ter decretado a insolvência da Sociedade de Renovação Urbana do Campo Pequeno, num processo que ele próprio apelidou variadas vezes de «ilícito e intencional» e contra o qual lutou com todas as suas forças até ao final da sua vida, para que se fizesse justiça. Morreu sem a ver feita, como em 2019 morrera seu Pai, o saudoso Dr. Henrique Borges, líder de todo o processo monumental de remodelação da praça de toiros do Campo Pequeno – que decorreu de 2000 até 2006.

Depois de afastada da gestão do Campo Pequeno – que impulsionaram como poucos o fizeram, apoiados na gestão artística de Rui Bento, que estava na equipa desde a reinauguração da praça -, a Família Borges, oriunda da Madeira, foi pura e simplesmente votada ao ostracismo pela ingrata Família Tauromáquica.

Num mundinho pequeno, fechado e tacanho em que se fazem homenagens a torto e a direito, ninguém se dignou fazer-lhes – apesar de o termos sugerido aqui variadíssimas vezes – uma mais que justa homenagem, em nome do reconhecimento que todos lhes ficámos a dever pela obra que fizeram.

Educadíssimo, homem de trato afável, mas reservado e pouco dado a mediatismos baratos, procurou andar sempre longe dos holofotes e nunca quis usufruir do protagonismo, a que tinha todo o direito, neste mundo tauromáquico, depois da obra monumental de remodelação da praça de toiros do Campo Pequeno – hoje, provavelmente, inactiva ou mesmo já desaparecida se isso não tivesse sido feito. Nunca ninguém lhe(s) agradeceu.

João Borges afastou-se por completo do meio tauromáquico depois de deixar em 2014 a gestão do Campo Pequeno e só lá voltou em 2017 para assistir a uma corrida de toiros, mas «saíu envergonhado», confessou em 2019 numa grande entrevista ao semanário «Sol», onde acusava o BCP de ter agido no processo de insolvência «de forma ilícita e intencional».

Morreu ontem com 69 anos (completaria 70 no próximo mês de Agosto) na sequência de uma alegada agressão por parte de um vizinho, no Verão passado, que o deixou tetraplégico. Esteve dois meses em coma e passou os últimos nove numa cama do Hospital de São José, em estado muito debilitado, acabando por não resistir às graves lesões sofridas – um processo-crime que segue agora os seus trâmites e que, por isso mesmo, por se tratar de uma morte por agressão, vai obrigar a que o corpo seja nos próximos dias autopsiado, atrasando as cerimónias fúnebres (ainda não agendadas).

Lamentando profundamente a sua morte e, sobretudo, as circunstâncias que a causaram, manterei para sempre a recordação de um homem recto, advogado brilhante, artista (pintor) de raro sentimento, mas também de um importantíssimo e inesquecível pilar que permitiu a continuidade da existência da emblemática praça de toiros do Campo Pequeno, apesar da situação dúbia, e de novo apreensiva, porque está agora a passar.

Aos seus dois filhos e em particular ao seu irmão e meu amigo Henrique, bem como a toda a ilustre Família enlutada, expresso, uma vez mais, os meus maiores sentimentos. E uno-me a eles nesta hora tão triste.

Que em paz descanse.

Fotos Emílio de Jesus/Arquivo e M. Alvarenga


No Campo Pequeno com Rui Bento


O cavaleiro João Salgueiro brindando uma lide ao Dr. João Borges
no Campo Pequeno em 2012


Na praça da Nazaré, que também geriu, com o ganadeiro
Francisco Lobo de Vasconcellos e seu filho Manuel. Em baixo,
fotos de M. Alvarenga do Campo Pequeno no tempo das obras,
um empreendimento monumental que nunca ninguém soube
agradecer à Família Borges

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